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Aqui parte da nossa turma do Técnico em Enfermagem do ENA na Praça do Mastro da Bandeira. No alto, de camisa meio aberta, nosso amigo NIL. |
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Festa da Amizade 1978 - ENA - Pernambuco da esq. p dir: Eliza, Paulo, Elma, Rísia, Jackie, Paulinho e Eu |
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Eu, Josilma, Evilin, Eliza - Flórida, 2010 |
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Josilma, Eu, Nil, Eliza e Evilin - Flórida, 2010. Último aniversário de Nil: 47 anos |
Pense num lugar no meio do nada, num desconhecido buraco do nordeste, com cerca de 200 meninos e meninas que viviam a orar, estudar, trabalhar, fazer travessuras e, a melhor, parte: Cultivar amigos para toda vida. Isto foi há mais de 35 anos. Nas fotos acima, o tempo da clausura e logo abaixo os mesmos amigos nos dias de hoje. Isto mesmo! Nosso "Clube" permanece espalhado no mundo mas, periodicamente nos encontramos. E sempre parece que nunca nos separamos. Tenho a honra de fazer parte desta história. De cumplicidade, de prova que o amor de amigo é...divino! Em homenagem a esses irmãos do coração, escrevo um texto bobo e sentimental logo abaixo.
Na semana em que foi comemorado o Dia do Amigo eu esperei passar a data Oficial para postar o que penso e, sobretudo, sinto com relação ao assunto. Claro que no dia entrei no clima, cumprimentei os amigos que consegui e dei graças a Deus por tê-los em minha vida. E fiquei esperando passar a data. Queria dizer a todos que lêem este blog: amigos, conhecidos, curiosos, que família e amigos, prá mim andam juntinhos e muitas vezes até conta-se mais com um amigo de verdade do que com aqueles com os quais possuímos ligações "de sangue". Talvez até pense assim porque tive uma educação, digamos, atípica. E, por esta razão, colecionei amigos prá sempre.
Mal saí da infância fui levada para ser educada nos moldes cristãos em um Colégio interno, aliás "Educandário". Chamava-se ENA - Educandário Nordestino Adventista (do sétimo dia). Ficava numa cidade de nome Belém de Maria, próxima a Catende e Palmares, em Pernambuco. O lugar tinha tudo para ser insuportavelmente monótono, mas não era. E sabe por que? Por causa dos amigos que lá fazíamos e que se transformavam numa família, mas só com a parte boa. Falávamos sobre tudo, sonhávamos com o mundo perfeito, planejávamos fugas jamais concretizadas e vivíamos arquitetando tolas infrações e malandragens. O máximo que conseguíamos era um banho de piscina fora do horário, uma ida escondida pro morro prá tomar sol com bronzeadores inventados, simular dores prá escapar do Culto ao amanhecer ou, no máximo, tomar uma overdose de Saridon ou xarope. Claro que depois éramos castigados pelo mau comportamento. Horas e mais horas trabalhando na cozinha.
Como vivíamos absolutamente alienados (nunca ouvimos falar que havia Ditadura no país), criávamos maneiras divertidas de subverter a ordem e também decidíamos o que era moda ou não já que nada sabíamos do mundo la fora. Vivíamos, literalmente, trancafiados e telefone, acho que só apareceu um (apenas um aparelho) depois de 1980. Uso emergencial: aviso de doença, morte. Mas, sim, para descumprir as normas, uma maneira deliciosa era conversar com rapazes fora do horário ou até mesmo brincar de pegar nas mãos. Estrategicamente, o prédio das meninas ficava do lado esquerdo a uma boa distância do prédio dos meninos. E monitores nos vigiavam dia e noite. Mas durante a aula, com uma ajuda amiga, dávamos um jeitinho de sentir o toque de alguém do sexo oposto em nossas mãos e cabelos. Com muita sorte e planejamento, poderia até sair um beijinho (sem língua, naturalmente). Era o máximo! E como aguentávamos e até ríamos desta vida insana? Sendo repetitiva, graças aos amigos mais que irmãos.
No quesito moda e vaidade caprichávamos também. Nós, meninas, do "Clube da felicidade e da sorte", dormíamos ( 6 em cada quarto) todas de papelotes nos cabelos para cachear ou de toucas de meias pra alisar. Nossa "maquiagem" (proibida pela Igreja) era feita assim: com lápis de cor, vermelho, pintávamos a boca e depois passávamos manteiga de cacau por cima. E ponto e basta. rss Ah, as saias plissadas eram devidamente encurtadas enrolando no cós. Nem sempre "colava". E como meu grupo de amigas era formado por classe média baixa, costumávamos fazer trocas de roupas temporariamente pra variar o guarda-roupa e irmos mais jeitosas para a Igreja. É, porque, na verdade, a Igreja era nossa vida social. Lá podíamos olhar para os meninos que, obviamente, sentavam em bancos do lado oposto ao nosso. Mas era tão bom ficar alí olhando, olhando...e o pastor pregando e pregando. Na hora do almoço, enfim, podíamos dividir a mesma mesa. Êta meia hora abençoada!
Depois do maravilhoso almoço vegetariano com os moços (passei 8 anos sem comer carne), íamos para o quarto fofocar sobre este e aquele outro e delirar sobre desejáveis namoros. É. Incrível, mas havia casais de namorados que apenas trocavam cartões, olhares ou aqueles toques infantis durante anos rss.
E como nos apaixonávamos. E o primeiro sinal do interesse era receber um cartão de Feliz Sábado após o pôr do sol da sexta-feira, quando já consideramos o Sábado do Senhor. O nosso clubinho, todas da mesma sala de aula, se possível do mesmo quarto ou vizinhas, era formado por Eliza, Josilma, Goreti, Jacqueline, Elma, Evilin, Rísia e eu. Andávamos em procissão. E só um menino podia nos acompanhar (ele era do externato e o pai fazia gordas doações ao Colégio). Nil nos seguia e participava de todas as nossas conversas e brincadeiras fora do prédio. Mas a melhor parte, a noite mais esperada do ano tinha o sugestivo nome de "Festa da Amizade". Eram eleitas as mais simpáticas, mais bonitas, mais isto e mais aquilo. Mas não era o que nos interessava. O bom mesmo era que podíamos passar cerca de 2 horas. DUAS HORAS! Conversando ao lado e o mais perto possível dos rapazes. Era a Glória! na segunda foto, no alto, você vê um grupo de amigos em uma destas "maravilhosas festas".
Na festa da foto, a primeira da esquerda é minha amiga-irmã, a Eliza. E a primeira da direita sou Eu. Na foto abaixo, somos nós atualmente. Agora eu sou a primeira da esquerda e Eliza a primeira da direita. Entre nós a Loira Josilma e a morena Evilin (lembram que falei nelas?). Mais abaixo, mais uma cena de amor para recordar: O último aniversário do nosso companheiro Nil (aquele da foto antiga que está de camisa aberta). Estamos Josilma, Eu, Nil, Eliza e Evilin. Nil sobrevivia há 11 anos sem os dois rins e morreu 10 dias depois desta foto. De todos que aparecem, apenas eu não moro nos USA. E a maioria dos ex-enenses, de fato, vive nos Estados Unidos (Talvez influência dos missionários do Colégio...).
De todo modo, já fizemos várias Festas da Amizade nesses novos tempos. Não só nos USA, mas na Europa, e em várias cidades do Brasil: São Paulo, Londrina-PR, Fortaleza, Belém e as seguintes serão, provavelmente, em Aracaju e na próxima Semana Santa em Nova Jeruzalém com passagem no local onde um dia existiu um paraíso de amor, chamado ENA. Para você que está lendo, não tenho noção, esta pode parecer uma história muito da besta e sem graça, mas para nós, para mim, tem grande importancia na vida e no meu modo de ser. Me faz crer mais e mais, a cada dia, na força da amizade e que "Toda forma de amor de amor vale a pena". Como vale!
Anna Ruth